Chega às lojas neste mês, pela Companhia das Letras, a graphic novel de ficção científica V.I.S.H.N.U, com roteiro de Ronaldo Bressane e arte do Fabio Cobiaco sobre argumento de Eric Acher. A HQ conta a história de um mundo futurista onde a inteligência artificial é banida, mas que ressurge das cinzas para novamente tomar o controle das vidas humanas através de seus mecanismos de dominação. O resultado é uma história de tirar o fôlego sobre uma força da informática que tenta renascer e o poder de controle ao que é capaz de recorrer em uma trama densa de ação, mistério e revolução. As influências ali presentes passam pelos grandes nomes da ficção científica internacional. V.I.S.H.N.U traz traços de Philip K. Dick, William Gibson, Ray Bradbury, Isaac Asimov e JG Ballard, além de muita personalidade própria em um fator que torna o lançamento único no mercado editorial brasileiro: o formato 29x29cm que deixou o livro com mais de um quilo. "De cara nos demos bem os três, porque o Cobiaco também é superfã de ficção científica e muito ligado em alta tecnologia — assunto em que Eric domina amplamente", conta Ronaldo Bressane, escritor e jornalista, colaborador de longa data da Trip. "Outro tema em que Cobiaco e eu nos identificamos é a afrociberdelia proposta por Chico Science, que de algum modo 'passeia' sobre a narrativa, em especial na pegada pop de alguns personagens e situações" Ele conta um pouco sobre o processo de criação da HQ na entrevista abaixo Como surgiu a ideia da HQ? E como foi que chegaram aos nomes? E vocês já se conheciam? E como foi o processo de criação? E com o Cobiaco? Quanto tempo desde o começo do projeto? Veja abaixo o booktrailer de V.I.S.H.N.U. Livro: V.I.S.H.N.U.
Eric Acher, um investidor de venture capital e leitor do pensador indiano Krishnamurti, tinha uma ideia de argumento, não sabia se para cinema ou para quadrinhos, nascida de suas inquietações em relação à velocidade das descobertas tecnológicas e ao livre-arbítrio do homem em relação ao que quer para o futuro, em especial em relação a temas como o upload de consciência, a imortalidade e a criação de inteligências artificiais. Eric é um dos investidores da RT Features, produtora de cinema e projetos especiais do Rodrigo Teixeira. O RT sentiu que a ideia daria uma boa HQ. Na época, Joca Reiners Terron havia levado ao RT o projeto de criar parcerias entre quadrinistas e escritores. Nesse pacote estão Vanessa Barbara/ Fido Nesti, Marcelino Freire/ Guazzelli, Emílio Fraia/ DW, Angélica Freitas/ Odyr e outros. E aí promoveu esse 'casamento' entre mim, o Eric e o Cobiaco.
Sou amigo do Joca já e havia participado de outros projetos da RT — como a antologia Este Livro Está Diferente, criada pela RT e publicada pela Cia das Letras. Mas Joca me chamou não só por ser meu amigo, e sim porque sabe de minha obsessão por ficção científica — na época já estava escrevendo um romance de FC (que aliás terminei em julho de 2012) —, e ao Cobiaco, por conta de sua influência de Moebius e outros quadrinistas clássicos dos anos 70, em especial de FC. Há muito tempo eu escrevia roteiros de HQ, mas nunca havia achado um parceiro para minhas ideias.
Não, Nenhum dos três se conhecia antes deste projeto, e é o primeiro livro de HQ para todos (mesmo Cobiaco, que é uma lenda viva da ilustração nacional, não tinha um álbum próprio). Talvez porque a gente não soubesse que era tão estranho, funcionou.
Após muitas e muitas conversas regadas a café expresso extraforte, a partir do argumento original Eric e eu, ambos leitores de Philip K. Dick, William Gibson, Ray Bradbury, Isaac Asimov e JG Ballard, tínhamos personagens novos, nomes novos, locações e ambientações diferentes, novas sequências - e um final aberto, metafísico. Originalmente a HQ se passaria somente entre Índia e Brasil; depois incorporamos Colômbia, EUA, Argentina e até a Ilha de Páscoa. A atual velocidade da tecnologia fez com que tivemos de mudar algumas coisas no roteiro. Por exemplo: havia um gadget muito semelhante ao Siri, do iPhone, criado uns 2 anos antes do lançamento do aplicativo; quando a Apple lançou o iPhone 4, abortamos o brinquedo.
Cobiaco entrou num segundo momento, quando o primeiro roteiro já havia sido escrito, para emplacarmos a HQ na Companhia das Letras. De cara nos demos bem os três, pois Cobiaco também é superfã de FC e muito ligado em alta tecnologia — assunto em que Eric domina amplamente. Outro tema em que Cobiaco e eu nos identificamos é a afrociberdelia proposta por Chico Science, que de algum modo 'passeia' por sobre a narrativa, em especial na pegada pop de alguns personagens e situações. A partir do primeiro draft, o louco do Cobiaco desenhou 50 páginas deslumbrantes, que foram levadas à Cia das Letras pelo editor André Conti e prontamente aprovadas. Desde o início Cobiaco optou por uma solução radical: produzir tudo em preto e branco, extraindo o máximo possível de suas técnicas (nanquim, aquarela, aguada, retícula, photoshop etc etc). Mas, lá pelo 4o ou 5o tratamento do roteiro, o louco do Cobiaco resolveu que o avatar gráfico do personagem V.I.S.H.N.U., digamos que o seu 'resumo geométrico', seria um quadrado. Então Cobiaco resolveu redesenhar todas as primeiras páginas, que já haviam sido finalizadas em 21x28, no formato 29x29, quadrado como o personagem principal. Só isso deve ter levado um ano.
Desde que começamos o projeto, lá por 2007, foram 10 tratamentos de roteiro e centenas de rascunhos. Houve muitas confusões na vida de cada um dos integrantes do que chamamos ABC Comix - nascimentos, separações, mudanças de cidade, protelações por conta de outros projetos -, mas entre os três nos resolvemos. E afinal, em setembro deste ano, finalizamos a última prova revisada, incorporando os pitacos de Conti, e entregamos os originais à Cia. das Letras. Entre vários pioneirismos do livro, a graphic novel é o primeiro livro de FC brasileira publicado pela Cia., a primeira graphic novel brasileira de FC, o primeiro álbum desenvolvido neste esquema de trabalho. Não temos a menor ideia de como será a repercussão do trabalho - pode ser um sucesso ou um fracasso de vendas. Porém, só por ser concluída, a HQ já é bem-sucedida: demonstra que funciona muito bem um esquema de trabalho em que um dos envolvidos é também o principal investidor — e que, mesmo antes de o livro estar pronto, esteja aprovado por uma grande editora, tendo uma produtora de cinema por trás. Quem trabalha com quadrinhos no Brasil sabe bem que somente 1% dos projetos acabam sendo viabilizados. Publicar um livro deste tamanho e com essa ambição será certamente muito inspirador para muitos leitores e artistas. E, afinal, este é apenas o Episódio Um de V.I.S.H.N.U.^^~-_-
Autores: Eric Acher, Ronaldo Bressane e Fabio Cobiaco
224 páginas
Preço: R$55
Editora: Companhia das Letras
www.companhiadasletras.com.br
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V.I.S.H.N.U.
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